

Ya Inguile (Marilene )
Marilene Honorato, Mãe de Santo do Terreiro de Umbanda e Candomblé Mamãe Oxum , no Distrito do Campo Grande em Campinas.
O seu Quintal
As tradições da cultura afro-brasileira presentes em sua religiosidade, a fizeram se conectar às ervas e ao mesmo tempo consigo, o que marcou o despertar de suas raízes ancestrais. “O terreiro me trouxe um cheiro, um aroma, e despertou em mim uma curiosidade de me conhecer de verdade”, afirma.
Sua relação com as plantas ganhou novos significados ao descobrir que sua bisavó indígena, que vivia do plantio de fumo, transmitia um legado de conexão com a terra.
Para Ya Inguile, as ervas são vivas, carregam energia e precisam ser tratadas com respeito. A prática de pedir licença a Ossanhe (Orixá ligado a cura pelas folhas), antes de colher qualquer planta, reflete a cosmovisão afro-brasileira contida nas religiões como Umbanda e Candomblé, que traz essa relação e respeito à natureza uma vez que ela é profundamente ligada aos Orixás.
Ela explica que cada folha retirada precisa ser autorizada; é uma troca de energia e um ato de respeito. Ela também cultiva ervas em seu quintal, o que considera um ato de resistência diante da urbanização e da dificuldade de acesso às plantas em áreas urbanas.
As folhas do Quintal
Arruda, Alecrim e Guiné
Ya Inguile utiliza ervas como Alecrim, Guiné, Arruda e Alfazema em rituais de defumação e banhos, práticas que considera essenciais no terreiro. Essas plantas são vistas como principais agentes de cura, do corpo e da alma, contribuindo para o equilíbrio e a purificação de quem as utiliza.
Ela também cultiva ervas em seu quintal, o que considera um ato de resistência diante da urbanização e da dificuldade de acesso às plantas em áreas urbanas. Ela cita exemplos como o uso da babosa no tratamento de feridas e a aplicação de plantas medicinais em chás e pomadas, práticas que ela acredita serem formas de desafiar o sistema capitalista e a dependência desenfreada da indústria farmacêutica que muitas vezes não trazem benefícios ou cura. A relação de Ya Inguile com as plantas é de afeto e respeito, cada erva cultivada em seu terreiro tem um nome e um significado especial. Para ela, cuidar de uma planta é como cuidar de um filho, criando um vínculo baseado em amor, respeito e troca de energia.
Ela afirma que as plantas são vivas e produzem energia para nós; tudo o que pedem em troca é cuidado e atenção.
O Nosso Quintal
Ya Inguile defende o cultivo consciente e a preservação da biodiversidade. Ela critica o impacto do desmatamento e da urbanização desordenada, que ameaçam as práticas de cultivo tradicionais.
Para ela, ter um quintal onde se pode plantar ervas e hortaliças é um ato de resistência e empoderamento. “O quintal é uma forma de dizer quem somos, de onde viemos, e resistir às imposições do capitalismo”, defende.