

Nil Sena
Nilvanda Sena Rodrigues se define como uma lavradora e Griota (guardiã de saberes ancestrais) e mãe de dois filhos. Filha de pais lavradores, Nil cresceu no sertão maranhense, onde aprendeu desde cedo o valor da terra e das tradições orais com seu pai, analfabeto, e sua mãe erveira e rezadeira que estudou até a 4a série primária.
Formada em Pedagogia aos 47 anos, Nil combina seu trabalho como agente comunitária de saúde com a sua vida de "fazedora de arte" multifacetada, da culinária ao Maracatu, passando pela composição musical em diferentes gêneros, como a dança.
O seu Quintal
A vida sofrida no sertão, junto à família, foi essencial para que Nil compreendesse a importância das ervas. "As ervas são importantes como respirar, como comer". Nil aprendeu com a mãe a usar as ervas e a cozinhar, e, com a vida, a cantar suas histórias.
As folhas do Quintal
O dente-de-leão
O dente-de-leão inspirou reflexão e composição a partir da sua realidade. Em um momento difícil da sua vida sendo mãe solo e com dificuldades financeiras, Nil foi ao quintal de sua casa, em Barão Geraldo, e encontrou dente-de-leão e mexerica. Ao preparar o dente-de-leão, sua filha reclamou das pontas das folhas, que pareciam espinhos. Nil explicou os benefícios da planta, tão comum no sertão. Luísa, chorosa, disse: "É bom, mas difícil de comer". A situação fez Nil refletir: "Qual o principal motivo da fome no Brasil? Como pode um país rico em alimentos ter tanta gente passando fome?" E continuou: "Eu estava no meio da cidade, da Unicamp, rodeada de doutores, mas ainda assim, naquela dificuldade. Pensei que, se tivesse um pedacinho de terra, não passaria por isso. Eu plantaria."
Posteriormente essa história se tornou trecho da loa (*) de um Maracatu:
“O dente de leão é bom, mas é difícil de comer. Eu queria ver o cidadão chegar no meio do sertão, pisar no dente de leão e o sertão não lhe comer.”
Nil explica, “você não deve menosprezar o sertão, a terra e as plantas. Se você desrespeitar o sertão, ele vai te comer, ele vai te devorar.”
E complementa com os versos:
“Eu vim aqui foi pra dizer, tem tanta coisa, pra falar, mas o que quero ver é o sertanejo sendo feliz por inteiro, sem ter terra pra todo.”
Os nossos quintais
Para Nil Sena, as plantas e ervas são partes integrantes de sua vida, bem como as questões sobre a ocupação e propriedade da terra.
“Eu vim aqui dizer quem sou, mas não vai se assustar. Como viver sem rancor, nesta terra de doutor se não tem onde morar?O Brasil é muito bom, não me canso de dizer. É a mais bela nação, o país da exportação e eu não tenho o que comer” . “Sou cabocla verdadeira, para essas terra vim primeira, quem chegou por derradeiro até minha alma quis roubar”
Loa é o gênero poético do Maracatu.