

Doné Suramaya D’Aziri
Suramaya Mariano Borges Custódio Vieira nasceu no Rio de Janeiro e, aos 11 anos, mudou-se para Campinas. Mulher negra, mãe, esposa e sacerdotisa da nação Jeje-Mahi no Candomblé, Doné Suramaya carrega a responsabilidade de liderar a comunidade Kwe Ceja Zinahuãn, preservando e compartilhando saberes ancestrais ligados às ervas, à culinária e à tradição cultural afro-brasileira.
O seu Quintal
Desde a infância, Suramaya cultivou uma conexão profunda com as plantas, influenciada pela tradição de sua ancestralidade materna. “Minha ligação com as ervas vem da minha avó, da minha mãe, das minhas tias. Sempre houve um uso muito ativo de ervas para banhos, chás e na alimentação.”, relembra com carinho a tradição familiar de preparar peixes às sextas-feiras, temperados com ervas e cozidos em folhas de bananeira, uma prática que preserva o legado de seus antepassados. Para ela, cozinhar com ervas não é apenas sobre alimentar o corpo, mas também a alma, resgatando lembranças e transmitindo cuidado e afeto.
Esse aprendizado, transmitido de geração em geração, tornou-se a base de sua prática cotidiana de vida.
“As ervas são vivas e necessárias no meu dia a dia. Desde defumações até os banhos religiosos, elas estão presentes em tudo que faço,” explica.
As Folhas do Quintal
Colônia e Sálvia
Doné Suramaya destaca a importância de plantas como alecrim, sálvia, manjericão e manjerona, que trazem equilíbrio, acolhimento e conexão com a ancestralidade.
Ainda sobre a sálvia, Suramaya descreve como uma erva extremamente versátil em suas tradições, tanto religiosas quanto culinárias, sendo muito usada para tratar traumas emocionais e medos. A sálvia impulsiona e fortalece, além de proporcionar aquele toque aromático diferenciado nos pratos.
Outra planta citada por ela é a colônia, segundo a Doné a colônia está ligada a cabeça (ori) e age sobre os pensamentos recorrentes, “A colônia ajuda a tirar esse sobrepeso. Um banho com ela, da cabeça para baixo, rejuvenesce, traz paz interior. É como se você pegasse um cobertor numa noite bem fria e ela te aconchegasse, porque ela te reestrutura por um todo.”
O Nosso Quintal
A Doné também reflete sobre os desafios enfrentados por praticantes de religiões afro-brasileiras, como a intolerância religiosa e a marginalização. Conta que, muitas vezes, precisou lutar por territórios onde conseguisse cultivar as ervas e praticar a sua fé sem medo de enfrentar situações de intolerância, como a de apedrejamento em seu terreiro.
“Na área urbana central não podemos estar. A nossa presença incomoda, a opressão é tanta que inibe as pessoas de entrarem. A sociedade, ela vai nos empurrando para a margem. Nós vamos buscando espaços onde nos sentimos seguros e ao mesmo tempo passamos a tradição, os ensinamentos para que eles permaneçam.”
Lolô, a filha caçula de Doné Suramaya, aos 4 anos, prepara os seus banhos de ervas, sozinha, usando a tradição aprendida. “É muito legal. As ervas é (são) importante. Eu gosto delas. Aprendi com a minha mãe.”
Doné é cargo exclusivamente feminino do Candomblé Jeje-Mahi, semelhante a Iyalorixá do Candomblé Ketu ou Noche da Casa das Minas. É uma sacerdotisa de vodum das religiões afro-brasileiras, significa aquela que tem uma casa de axé com filhos já iniciados.