

Caixeiras das Nascentes
As Caixeiras das Nascentes é um grupo de percussão formado por cerca de 40 mulheres guardiãs da memória da Cultura Popular que tem a música como forma de celebração, devoção e partilha.
Através das suas Caixas do Divino (tambor pequeno, originário da Festa do Divino do Maranhão), as Caixeiras celebram as tradicionais Festa do Divino, Congadas, Carnaval e estão presentes em outras manifestações da cultura popular ligadas aos santos das manifestações da religiosidade popular.
Cristina, a Mestra, é fundadora do grupo, percussionista, pesquisadora de ritmos das manifestações populares de raiz Brasileira e artesã de Caixa do Divino.
Inês, a Contra-Mestra, tem raízes no teatro e está há muito tempo no grupo, antes das Caixeiras serem Caixeiras, ou seja, uma trajetória de mais de 30 anos.
Nilza, uma das erveiras do coletivo, integra o grupo Caixeiras desde 2019. Seu pai plantava ervas e sua mãe era benzedeira.
O seu Quintal
Apesar de ter forte ligação com o catolicismo popular, principalmente por causa das celebrações e manifestações da religiosidade popular, como, por exemplo, a Congada, elas também estão muito próximas à Umbanda, devido à matriz afro-brasileira e, consequentemente, às tradições e a ritualística das ervas.
“As religiões afro-brasileiras cuturalmente colocam a centralidade no povo negro, nos povos indigenas e essa é a formação brasileira. Essa é a nossa identidade. E é nesse universo que a espiritualidade das ervas acontecem” afirma a Mestra Cristina Bueno. A ligação e vivência com as ervas é uma das características do grupo da Festa do Divino, passando pela Congada, Festas dos Santos - no período junino - ao Carnaval. Em todas as ocasiões as ervas estão presentes. O grupo é, para muitos integrantes, a primeira conexão com esse saber, ou até a reconexão com as ervas e a ancestralidade. Inês conta que foi a partir da vivência com as caixeiras que ela começou a ter uma relação mais profunda com as ervas “Antes era só uma relação somática” e completa, “Hoje quando eu me triste já tomo um chazinho de alecrim. As plantas são uma conexão ancestral e nos levam a outras percepções, elas estavam na terra antes de nós e permanecerão depois de nós.”
Já Nilza, se reconecta com as ervas, as memórias de seu pai e de sua mãe benzedeira, a partir da vivência com as ervas no grupo. Segundo ela, foi como um “despertar”. “Toda vez que eu me aproximo destas ervas e deste fazer, eu também me aproximo do meu pai que as cultivava e da minha mãe com seus benzimentos.”
As folhas do Quintal
Alfazema, Manjericão e Alecrim presente em todos os momentos
O Alecrim, símbolo das Caixeiras, é descrito por elas como uma planta de alegria, amor, cura e conexão com a espiritualidade.
Para Cristina, as ervas representam um elo entre o visível e o invisível, trazendo limpeza, cura e a presença do Divino. “As ervas nos ajudam a enxergar o lado invisível e nos conectam com o sagrado que está nas ervas. Porque toda erva tem uma lenda, uma história que se conecta a uma sacralidade enquanto santo, entidade, divindade. A erva limpa, cura.”, explica ela a Mestra.
Outras plantas, como Manjericão e Alfazema, também aparecem nas práticas do grupo. Na confecção da Caixa do Divino, as três ervas são utilizadas. A Caixeira escolhe entre as três ervas na preparação da sua caixa em prática tradicional do grupo.
Os Nossos Quintais
Cura, amor, alegria, bem estar e a espiritualidade interna de cada um. É o que as Caixeiras em suas manifestações procuram irradiar e trazer para as pessoas.
“Quem é alegre, é feliz! Vai irradiar felicidade, cantar feliz e receber felicidade”. Explica a Mestra, completando “o alecrim é felicidade, então usamos alecrim até no Carnaval.”
Para Nilza partilhar faz parte do caminho. ”Eu aprendo muito com a Cris. Eu vou cultivando, compartilhando as ervas e plantas com o seres; as abelhas frequentam meu quintal, distribuo mudas para as pessoas.”
Cristina, Inês e Nilza acreditam que as plantas não são apenas ferramentas
“Eu falo da cultura popular e da gente. Tem essa coisa da religiosidade popular, que é a nossa história. Se a gente toma banho com ervas, elas trazem a presença de Deus desse lado invisível que a gente desconhece, que o ser humano desconhece. Então a gente começa a enxergar esse lado invisível através das ervas. As ervas curam, a gente se cura. A gente espanta coisa ruim através das ervas.”