

Gracinha Gomes
Graça Gomes, a Gracinha, mulher negra e nordestina de Santa Maria no Piauí, moradora da região periférica de Campinas, foi trabalhadora doméstica e se formou professora. Líder comunitária, integra movimentos coletivos e sociais como a pastoral afro-brasileira, as PLPs - Promotora Legal Popular, entre outros.
O seu Quintal
A terra e sua ocupação, as ervas e a fome são questões intrínsecas a ela que relembra sua infância no Piauí. As ervas e plantas eram fontes de alimentação e de medicação, elas eram colhidas na natureza, nas ruas ou nas áreas de vegetação como: o mastruz (remédio dado para as crianças no combate as lombrigas), frutas como pequi, tucum e a guabiroba. O chá de capim-santo acompanhado do beiju era “remédio para enganar a fome.”
Gracinha tem um profundo vínculo com a terra. O quintal da sua casa exprime esses sentimentos, no pequeno espaço a diversidade está presente nas ervas medicinais e aromáticas, nas plantas e árvores. Essa percepção se traduz em sua prática de compartilhar mudas e incentivar outras pessoas, especialmente mulheres, a se reconectarem com a terra e as ervas.
Os chás também são presença constante na família, dos filhos aos netos, todos são cuidados pelos chás de Gracinha.
As folhas da Gracinha
Capim Limão e Coentro
O capim limão, apesar de ser uma memória viva em sua vida, estava faltando no seu quintal até pouco tempo, quando foi presenteada com uma muda por sua amiga. Essa tinha um quintal todo cimentado pelo marido, e com o falecimento dele, retirou o cimento e começou a cultivar a terra incentivada por Gracinha.
A matriarca, com sua tradição nordestina usa o coentro como erva aromática e também medicinal, ela conta que o chá das sementes foram responsáveis por garantir um sono tranquilo para o neto Cauê.
Os nossos Quintais
Gracinha acredita que o problema da distribuição e ocupação da terra, inclusive nas áreas urbanas, é uma barreira contemporânea significativa: “As pessoas têm que se organizar para ocupar, é nosso! Eu acho que se tivesse mais espaço para as pessoas cultivarem, elas conseguiriam plantar. Uma avenida poderia ter muitas frutas, comida e remédios”, segundo ela é possível cultivar ao longo das avenidas e canteiros da cidade, bem como em pequenas áreas urbanas.
Essa percepção se traduz em sua prática de compartilhar mudas e incentivar outras pessoas, especialmente mulheres, a se reconectarem com a terra e as ervas.
“As coisas estão caras e são difíceis, mas se a gente se juntar podemos mudar. Fazer hortas coletivas podem transformar a forma de pensar. O coletivo transforma e a solidariedade é tudo de bom.”