
Quintais da resistência e da cura, a fotografia como ferramenta
É bom lembrar que os quintais sempre foram espaços de forte resistência feminina, especialmente das mulheres negras. E foi evidenciado no pós-abolição quando a apropiação dos espaços urbanos era totalmente desigual, recaindo sobre o povo negro proibições para excluí-los da área central da cidade e aparta-los culturalmente posicionand-o às nas margens sociais, e desta posição periferica, em sua essencia rica na criação de contranarrativas . A forma insurgente possibilita alternativas de existência e de produção de cultura. Os quintais foram berço de manifestações culturais como o samba, que é "filho do quintal", e de práticas religiosas afro-brasileiras. Também foram lugares de subsistência, com pequenas plantações, árvores frutíferas e criação de animais, especialmente galinhas. Para as crianças, os quintais foram — e ainda são — espaços lúdicos — nele o gato da família é o irmão das bonecas da menina e todos moram em um reino colorido e mágico onde as borboletas são fadas.
Para muitos, os quintais são fonte de cura, com suas ervas e plantas.
Quintais são territórios da vida, espaços de lazer, relações comunitárias e sociais, do cultivo de ervas e plantas, os “quintais produtivos” que geram alimento e renda para comunidades e que podem ser considerados sistemas agroflorestais, pois há misturas de árvores, arbustos, matos miúdos e animais.
Os quintais são lugares de resistência e podem significar pequenas revoluções e transformações.
A fotografia me dá a possibilidade de levantar essas questões, porque as imagens, as cenas, as histórias existem no cotidiano, na vida e estão ali, cabe a mim só mergulhar nelas com a minha alma, afeto e câmera Como disse uma das matriarcas que participou do nosso quintal:
“O quintal é um mundo de possibilidades, de futuro e de cura.
Porque o que a gente está precisando hoje, é de cura nesse mundo.
Um mundo adoecido, um mundo em desequilíbrio. Eu acredito que as grandes transformações acontecem num quintal.”
— Mameto Tatiana